“DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO, UMA HISTÓRIA VIVA E ABERTA AO FUTURO”
“Queremos viver concordes e unânimes na oração, na escuta de Palavra de Deus e no partir o Pão Eucarístico e o pão ganho com o nosso trabalho. Colocamos em comum nossos bens, aspirações e atividades. Juntas, tomamos as nossas decisões, unidas pela caridade e pela mútua estima”. (Cont. art. 3).
A Congregação das Irmãs Servas de Maria de Galeazza, nascida do impulso do Espírito Santo e por obra do padre Ferdinando Maria Baccilieri, em 23 de junho de 1862 em Galeazza (Bolonha) Itália com três irmãs: Irma Maria Luigia Busi, Irmã Maria Giuliana Busi e Irmã Maria Rosa Gallerani, sempre teve uma ligação direta com a Ordem dos Servos de Maria, cujo espírito animava e impregnava toda a vida da primeira comunidade.
Espiritualidade mariana, vida fraterna e serviço adaptado aos tempos, compõem o carisma da Ordem dos Servos de Maria e da Congregação.
Ao longo de mais de 150 anos foram muitas às irmãs capazes de escutar a vontade de Deus para suas vidas e responderam fielmente a esse chamado, impulsionando outras jovens para fazer o mesmo e construírem juntas uma história viva e aberta ao futuro.
BEATO FERDINANDO MARIA BACCILLIERI, FUNDADOR DA CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS SERVAS DE MARIA DE GALEAZZA
Nasceu no dia 14 de maio de 1821 em Campodoso di Reno Finalese (Finale Emilia, Módena) – Itália. Ferdinando Maria foi o terceiro filho do casal Domingos Baccilieri e de Leonilde Dalla Bona.
O pequeno Ferdinando Maria Baccilieri teve sua iniciação religiosa já no dia seguinte com seu batizado na igreja paroquial de Reno Finalese, tendo na convivência familiar, seus primeiros ensinamentos de fé e de partilha. Em 11 de março de 1830, na paróquia de São Vital e Agrícola, recebeu o sacramento da confirmação pelo cardeal Carlos Opizzoni, arcebispo de Bolonha.
Ferdinando fez os estudos primários em casa, com professor particular, mas em 1833, iniciou o curso ginasial no colégio Santa Luzia, dos padres barnabitas. Com a mudança da família para Ferrara, prosseguiu seus estudos no colégio, recém-construído dos jesuítas, onde sentiu o chamado à vida religiosa e missionária.
Tornou-se sacerdote diocesano em 2 de março de 1844 e assumiu, “a contragosto”, a pequena paróquia de Galeazza em 25 de abril de 1852. Transformou o “contragosto” em amor profundo. Lá reconstruiu a igreja arquitetural e a Igreja “Povo de Deus”, através das numerosas missões populares. Incentivava a fraternidade, o serviço, a devoção a Nossa Senhora, por quem era apaixonado, tornando-se fiel terciário da Ordem dos Servos de Maria.
Uma de suas grandes paixões foi a Eucaristia. Ele dizia: “A Eucaristia é remédio na doença, é nobreza na miséria e é vida na morte”. Gostava também de afirmar: “É preciso trabalhar, não pensar no bem feito, mas naquilo que resta para fazer”. Em sua atividade contava com a colaboração de muitas pessoas, dentre elas as jovens que faziam parte da Terceira Ordem dos Servos de Maria, que algum tempo depois, sentiram-se animadas a viver uma vida fraterna, impulsionadas pelo desejo de servir a Cristo e aos irmãos, professando os votos de pobreza, castidade e obediência seguindo Cristo, como Maria. Surgiu assim a Congregação das Irmãs Servas de Maria de Galeazza, em 23 de junho de 1862.
Ele viveu o Evangelho por meio do serviço, da contemplação, da caridade, da sede de Deus, do anseio pelo Reino, da abertura a grandes horizontes, da prudência, da simplicidade, da obediência, da humildade, do humorismo, da amizade, da oração profunda, constante e perseverante, do anúncio da Palavra e da escuta de Deus e dos irmãos.
Seu falecimento aconteceu no dia 13 de julho de 1893, em Galeazza, enquanto fazia sua oração matinal “acordando a aurora” (Sl 107,3). Deus o chamou para viver a missão sem fim no céu.
A sua obra, fruto da sua docilidade ao Espírito, não morreu. Hoje vive em cinco países como Itália, Alemanha, Brasil, Coréia do Sul e Indonésia. A Igreja reconheceu sua santidade e o Papa João Paulo II o declarou Bem aventurado, no dia 03 de outubro de 1999, na Praça de São Pedro, Roma. Sua festa Litúrgica se celebra todo ano no dia 01 de julho.
MISSÃO NO BRASIL: UMA HISTÓRIA DE MAIS DE 40 ANOS
História
2“Agradecemos ao Senhor por ter concedido também a nossa Família Religiosa a graça de anunciar o Evangelho além dos confins da nossa pátria” (Irmãs enviadas para a missão no Brasil em 1982).
No Capítulo Geral de 1969 as irmãs capitulares, movidas pelo impulso do Concílio Vaticano II, acrescentaram à Constituição das Irmãs Servas de Maria de Galeazza, em seu artigo 98, o aspecto missionário fora da Itália: “A Congregação colabora nas várias iniciativas missionárias locais e, na medida do possível, procura ser uma presença viva da Igreja, também em locais de missão”. E, após alguns contatos com o Bispo Dom Giocondo, e a visita da Madre Geral, no momento “Irmã Caterina Vaccari”, a Congregação decidiu enviar cinco corajosas irmãs – irmã M. Stefanina Calzolari, irmã M. Madalena Marchesine, irmã Patricia Baravelli, irmã Anna Maria Gretter e irmã Francisca Frigeri – que aceitaram o convite de atravessar o oceano e irem para o Brasil.
Chegaram a terras acreanas no dia 18 de fevereiro de 1972, sendo acolhidas pelos frades Servos de Maria e pelas Irmãs Servas de Maria Reparadoras.
Os primeiros trabalhos feitos pelas irmãs foi com as crianças do Educandário Santa Margarida e na Paróquia de Nossa Senhora das Dores em Brasileia, onde fizeram um grande trabalho de evangelização, visita às famílias do interior, acolhida das pessoas em casa e preparação de líderes das comunidades. Tendo sempre como prioridade a evangelização e a promoção humana. Depois de alguns anos a comunidade foi transferida para Epitaciolândia onde ainda esta atualmente.
Posteriormente outras comunidades foram abertas: Salvador e Rio Branco. E, depois de quase quarenta anos, optaram por abrir uma escola de Educação Infantil: Centro Educacional “Irmã Maria Stefanina Calzolari”.
HISTÓRIA DAS SERVAS DE MARIA DE GALEAZZA NA DIOCESE DE RIO BRANCO
No ano de 1965 Dom Giocondo conheceu duas comunidades das SMG que tinham na Europa, Bologna e Môdena, e percebeu que tinham boas condições para colaborar no Acre. As suas esperanças aumentaram quando o Pe. Alberto Morini, então Vigário Geral e que foi por dez anos confessor das irmãs de Fiorano e Vila Laura, soube que muitas delas desejavam uma fundação em terra de missão. Imediatamente, no dia 23 de março de 1966, Dom Giocondo fez o pedido-convite para que as irmãs viessem para o Acre. A resposta foi negativa devido ao número reduzido de religiosas. O Bispo, no ano de 1969 fez de novo o pedido, dizendo que era uma boa oportunidade, e assim realizar o ideal de tantas irmãs.
No dia 4 de abril seguinte, a Madre Geral Ir. M. Catarina Vaccari respondeu dizendo que a Congregação tinha tomado a proposta no coração, mas que não poderia atender o pedido nos próximos dois anos. No ano 1969, as irmãs celebraram um Capítulo especial de revisão das Constituições, e enquanto acontecia no mês de agosto, Dom Giocondo visitou novamente a Itália, retomando o pedido. Coincidentemente a reunião capitular citada incluiu a atividade missionária entre as atividades específicas da Congregação. Sabendo disso Frei Alberto Morini, escreveu novamente à Madre Catarina pedindo de novo… Antes de mandar as irmãs, Madre Catarina e Ir. Benícia Bajo fizeram uma visita ao Brasil, no ano 1971, para conhecer melhor a realidade.
Quando tudo estava preparado aconteceu a morte do Bispo Dom Giocondo.
De Bologna M. Catarina escreveu ao Pe. André, perguntando o que fazer: “Depois da morte trágica de Dom Giocondo, escrevo para o senhor, como encarregado da Missão, para ter esclarecimentos sobre continuar ou não a documentação para a saída das irmãs. Os nossos acordos tinham sido tomados verbalmente com o saudoso Dom Giocondo, mas por escrito não temos nada, a não ser um rascunho do convênio da Prelazia com a Congregação, que precisava ser revisto e assinado quando as Irmãs tivessem chegado ao Acre. Nós queríamos enviar as cinco irmãs até janeiro de 1972: três para a Paróquia de Brasiléia e duas para o Educandário em Rio Branco, onde se encontram os filhos dos leprosos. Agora que não está mais Dom Giocondo, o que fazer? Suspender até a chegada do novo Bispo? Com quem devo falar? A quem está entregue a Prelazia?”.
Frei André respondeu no dia 8 de novembro seguinte, assegurando que tudo tinha permanecido conforme o acordo feito e que as irmãs podiam chegar no janeiro seguinte. Em seguida, frei Alberto, no dia 12 de janeiro de 1972 foi a Itália e teve oportunidade de ver os pormenores da viagem e da fundação. Esclarecido tudo, no dia 29 de janeiro de 1972, como previsto, as cinco irmãs saíram da Itália, tendo já onde atuar: Ir. Ana Maria Gretter e Ir. Patrícia Bavarelli iriam assumir o Educandário em Rio Branco; Ir. Madalena Marchesini, Ir. Stefanina Calzolari e Ir. Francisca Frigieri, iriam para Brasiléia.
O grupo veio acompanhado pela Priora geral, Ir. Catarina, saindo de Gênova a bordo do transatlântico Augustus. No dia 10 de fevereiro chegaram a Rio de Janeiro, e depois de passar uma semana, viajaram no avião da Cruzeiro até Rio Branco, chegando no dia 18 do mesmo mês. Do aeroporto a Ir. Ana Maria e Ir. Patrícia foram diretamente ao Educandário Santa Margarida, que funcionava como casa de acolhida para meninos filhos de hansenianos e outros. Os acolhidos eram mais ou menos 60, sendo de 0 a 14 anos de idade.
As outras três irmãs, Madalena, Stefanina e Francisca, permaneceram no Colégio São José das Reparadoras, sendo que a Priora Geral ia até Brasiléia para ver como estava a construção da casa que tinha sido prometida. A desilusão foi grande, pois depois de ter erguido as paredes não foi construído o teto, sendo que até uma árvore tinha nascido no interior. As três irmãs continuaram em Rio Branco e chegando o mês de maio, depois de voltar a Priora Geral, o Prior Provincial brasileiro, Frei Moacyr Grechi, com Frei Armando Morandi, aconselharam as irmãs de irem a Brasiléia para acompanhar de perto a construção da casa. As irmãs aceitaram, mas a Ir. Stefanina permaneceu em Rio Branco trabalhando com as irmãs do Educandário Santa Margarida.
Em Rio Branco, a experiência no Educandário durou somente cinco meses e meio, porque logo surgiram problemas com a administração do Educandário. A permanência se tornou insuportável, quando a Ir. Ana Maria se negou a assinar uma nota fiscal em que dizia ter recebido uma saca de farinha, duas de feijão e outras pequenas coisas. Como a Irmã afirmou não ter recebido isso, a Congregação recebeu um telegrama, datado no dia 13 de junho de 1972, comunicando que as irmãs tinham 24 horas para deixar o Educandário. Assim aparecia a notícia no boletim da Prelazia: “As irmãs que administram esta obra foram injustamente acusadas de maltratar as crianças e de fazê-las passar toda sorte de privações. O pior é que receberam, sem terem sido ouvidas na sua defesa, um convite a se retirarem desse Educandário. A Prelazia, porém, através do atual Vigário Capitular, Pe. Pedro Martinello, está procurando botar os pontos nos seus verdadeiros lugares”.
Constrangidas, as irmãs foram morar na casa do Bispo falecido. A esta altura a casa de Brasiléia tinha sido terminada e as irmãs foram morar lá. A entrada na pequena e modesta casa-convento foi no dia 13 de julho de 1972.
Chegando a Brasiléia, as Irmãs Francisca e Madalena, em seguida formaram uma das primeiras Comunidades de Base naquela região. Já naquele mesmo ano se deu na paróquia o primeiro treinamento de monitores com a participação de doze adultos, que sucessivamente organizaram na cidade vários grupos de evangelização.
Eram tempos difíceis para todos, e em especial para aquelas que estavam chegando de outro mundo, com poucos meios de comunicação, sem asfalto, sem carros, sem ônibus… “Chegou de Cochabamba a Irmã Stefanina depois de 25 dias de férias. Trouxe tomate, cenoura, ‘apolotti’, repolho e uva. Graças a Deus temos verdura para comer!”.
A modernidade estava chegando, mas muito devagar, não com a rapidez que todos desejariam. As irmãs se admiravam de tudo o que estavam vendo. “Chegou no dia 19 de agosto de 1975, o novo ônibus da empresa ‘Irmãos Ribeiro’, para a linha Brasileia-Assis Brasil. Trata-se de uma adaptação do pau-de-arara do ano passado: aplicaram poltronas e lataria de ônibus ao corpo do caminhão. Não deixa de ser um progresso para esta região”.
A qualquer hora as irmãs estavam prontas para sair e ir à procura do povo, lá onde fosse necessário. “Depois do jantar, os padres e a Irmã Stefanina deram um pulinho até o seringal São João, no carro do Dr. Fernando Tuma. Encontraram a Irmã Ana Maria fazendo reunião com o povo da região, na escola do Km. 18. Foi bonito ouvir desde a rodagem, no silêncio da noite, as orações dos fiéis ‘Senhor, escutai a nossa prece’. Uma hora depois, com o canto ‘Como é bom e agradável viver juntos como irmãos’, entoado pela professora da escola, terminava a reunião e os visitantes voltaram para Brasiléia”.
Nessas visitas dava-se a primeira evangelização e discutia-se a problemática da terra. Houve muita conscientização, mas também vários conflitos com fazendeiros, culminando com a morte do presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Wilson Pinheiro em 1980. “Nossa missão pastoral é essencialmente um serviço de inspiração e educação das consciências dos fiéis, para ajudá-los a perceberem as exigências e responsabilidades de sua fé, em sua vida pessoal e social. Não seríamos a Igreja de Cristo, se não criássemos meios para que o Evangelho fosse anunciado a todas as pessoas que queiram ouvi-lo e praticá-lo. No momento em que esta palavra chega a reunir as pessoas e a criar condições para se reconhecerem como imagem de Deus e filhos do Pai que os ama, é que se inicia a comunidade cristã. Esta comunidade cristã que é sinônimo de Igreja se oficializa pelo batismo recebido de seus membros”.
A morte de Wilson marcou profundamente a vida das irmãs, como também a vida do povo. Houve ameaças e perseguições pelo lado dos grandes e estima e apoio por parte do povo que também sentia-se, por sua vez, apoiado e encorajado a continuar a luta. As irmãs partilhavam com eles lutas, angústias e esperanças. Seguiram-se meses muito difíceis e a casa das irmãs tornou-se o lugar de esperanças, de hospedagem das muitas visitas, de conforto para os parentes dos colonos presos e do povo em geral.
A vida das irmãs era de autênticas missionárias, sempre prontas para sair à procura do povo: “Sempre Irmã Madalena, mais uma vez, tomou a mochila nos ombros e foi na Comunidade de N. Sra. Aparecida para fazer a desobriga anual. O grupo do João Melo é sempre animado e também o do Ozair surpreendeu. O mesmo monitor é conscientizado e conscientiza os membros do seu grupo até em relação ao compromisso político”.
A assistência sacramental, pelas circunstâncias dos padres, era dada desde Xapuri: “No dia 21de fevereiro de 1986, chega de Xapuri, o Pe. Mário Scuppa para presidir as celebrações litúrgicas da Semana Santa. Como não há ônibus para Brasiléia, o Padre foi até o entroncamento pelo ônibus de Rio Branco, depois seguiu a pé, umas três horas e meia. Perto do “Olho d’água’ conseguiu uma carona, na caçamba do Deracre que o trouxe até Brasiléia, cansado, queimado do sol, mas vivo”.[8]
E, com ele, as Irmãs começaram todo tipo de trabalhos, materiais e espirituais. “O Pe. Mário, como pedreiro, e a Irmã Stefanina, como servente, se meteram no trabalho da igreja para vedar a passagem dos morcegos entre a parede e as telhas da nave central da igreja matriz. O Padre Vigário, trepado numa escada de dez metros, e a Irmã Stefanina puxando a corda da roldana para mandar massa e tijolos, formavam uma equipe bem entrosada. E o trabalho progrediu!”.[9]
Na Semana Santa houve um pequeno contratempo: “O Pe. Luiz Ceppi devia trazer um saquinho de mil hóstias para Brasileia, mas no aeroporto da Vila Epitácio houve confusão e troca de pacotes; assim as hóstias seguiram viagem aérea para Vila Assis. A Irmã Madalena telefonou a Rio Branco para enviar outras mil. No aeroporto de Rio Branco entregaram a encomenda ao táxi aéreo e o táxi levou as hóstias à Paróquia de Sena Madureira, ao que parece. A Irmã Madalena telefonou de novo para entregar mais um pacote de mil hóstias a um rapaz que viria a Brasileia, Quinta Feira Santa, depois de meio-dia. Tudo bem! Mas a viagem foi adiada para Sexta Feira Santa. Aí o Padre Mário combinou com as irmãs que na Missa do lava-pés (com os doze homens representando os doze apóstolos) só essas doze pessoas receberiam a santa comunhão, nas duas espécies do pão e do vinho consagrado. Ao povo que lotava a igreja foi brevemente explicado que a comunhão ia ser exatamente como se deu na Última Ceia de Jesus: só aos doze apóstolos. Todo o mundo achou legal e ninguém reclamou!”.
Os costumes do povo não deixavam de chocar às irmãs, vindas de outra cultura: “Sábado Santo. Apesar de todo cuidado para vigiar as galinhas, os ‘ladrúnculos’, vieram e levaram três; ainda bem que a Irmã Ana Maria acordou e impediu que o desfalque fosse maior. Dizem que na noite entre a Sexta Feira e o Sábado Santo é a ocasião para roubar no galinheiro vizinho sem pagar pelo pecado, pois Cristo está morto e não vê”.
“O arraial feito nesta sala suscitou muita polêmica. Quem mais alimentou a fofoca foram os jovens, que queriam o arraial na rua. Como já foi dito, resolvemos fazê-lo aqui, porque as irmãs devem ficar responsáveis de tudo, antes, durante e depois do arraial. Todo mundo procura aproveitar e pouco se interessa pelas coisas da Igreja. O povo deve-se acostumar a colaborar com a sua Igreja sem precisar pegá-los na marra. Os colaboradores são muito poucos e as irmãs devem cuidar também das outras coisas importantes. O arraial dos primeiros dias sempre foi fraco, também na rua. Esperamos que nos últimos dias melhore, mas também senão for animadíssimo iremos pegar o que vem e fazer os trabalhos conforme as possibilidades. O povo não merece o nosso esforço, que é muito. Porém, estamos trabalhando para ter ambientes suficientes para organizar melhor a catequese e a pastoral em geral. Talvez um dia conseguirão enxergar que estávamos trabalhando para o bem deles”.
Algum problema pastoral também aparecia de vez em quando: “No dia de São Sebastião, do ano 1982, a procissão organizada pelas irmãs, tinha sido programada com um longo percurso, mas a procissão resultou curta porque a imagem do santo rachou na altura das pernas e foi preciso voltar à igreja. O povo ficou muito triste, alguns choraram, outros (movidos por superstição) ficaram apavorados pensando que isso era um sinal de um castigo que ia acontecer. O Padre procurou acalmar o povo, explicando que isso devia acontecer porque a imagem estava já rachada e deteriorada, e como todas as coisas materiais, também ela quebrou. O Padre prometeu se interessar para comprar outra imagem, e ao chegar organizaria outra procissão. O povo ficou conformado, à espera”.
Posteriormente também começariam esse mesmo trabalho de Comunidades no bairro das Placas, em Rio Branco.
Em 1977 chegou um reforço: Ir. Rosalia Saccardo, chegada em Rio Branco no 17 de setembro, integrando-se na Comunidade de Brasiléia. Cinco anos mais tarde, em 1982, mais três religiosas: Ir. Silvana Stella, Ir. M. Rita Castelli e a ex-priora geral Ir. M. Catarina, chegaram ao Acre, para dar mais um reforço às primeiras que chegaram. A ajuda foi providencial, pois a Ir. Francisca Frigieri, tendo contraído hepatite, voltou definitivamente para Itália.
A nova composição de Irmãs deu a possibilidade de assumir o Centro de Treinamento da Diocese de Rio Branco, em resposta ao pedido feito por Dom Moacyr Grechi à nova Priora Geral, Ir. Crocifissa Raimondi.
Depois de alguns tempos receberam as primeiras jovens que desejavam fazer experiência com as religiosas. Cinco iniciaram, e duas permaneceram: Rosa Maria Barbosa de Morais e Raimunda Lira de Carvalho.
Uma outra irmã da Congregação, Ir. Marivana Maddalena, deixou a Itália para vir trabalhar no Brasil. Sua chegada foi muito oportuna, porque estavam abrindo uma terceira Comunidade no bairro das Placas, em Rio Branco.
Os problemas com o visto de permanência por parte da polícia federal eram frequentes, sobretudo quando as irmãs faziam algum trabalho com o povo, que não era do agrado das autoridades. “A Irmã Silvana Stella viaja para Itália. Pela quarta vez as autoridades de Brasília responderam ‘indeferido’, ao pedido do visto de permanência. O secretário da CNBB apresentou novo recurso para que as autoridades federais corrijam essa negativa. A Irmã esperará na Itália o resultado do recurso. No entanto, aproveitará o prazo para tratamento de saúde que não anda muito boa”.
E a Irmã não voltou mais para o Brasil.
O Conselho Geral decidiu que a fundação do Acre fosse Delegação, em 21 de julho de 1986. A 1ª Delegada foi a Ir. Rita Castelli. E no ano 1989 o Capítulo Geral aprovou a Delegação brasileira para abrir uma 4ª comunidade com o objetivo de facilitar uma formação teológica, profissional, formação permanente e uma nova experiência eclesial, fora do Acre. Assim abriu-se a Comunidade em Salvador-BA.