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Com a palavra, padre Jairo Coelho sobre estes tempos de Covid-19

Muito tem se falado em nosso estado a respeito da reabertura das igrejas e templos, e como já sabemos, a Diocese de Rio Branco já se pronunciou a respeito do assunto em várias ocasiões, assumindo seu compromisso com a vida e saúde dos fiéis, pedindo prudência e paciência neste momento.


Padre Jairo Coelho, vice-reitor da catedral Nossa Senhora de Nazaré, se manifestou a respeito do assunto, em um texto publicado nesta sexta-feira, 24. Com o título ‘Prudência e sabedoria em tempos de pandemia’, o texto reflete acerca da sabedoria que, enquanto igreja, devemos ter para agir neste delicado cenário do Covid-19.


Confira o texto na íntegra:

PRUDÊNCIA E SABEDORIA EM TEMPOS DE PANDEMIA


A sabedoria é um dom do Espírito Santo muito necessário nos dias atuais, sobretudo, para lidarmos com a realidade da pandemia do novo coronavírus. Sem sabedoria, tornamo-nos como que loucos e indisciplinados (cf. Pr 1,7) e, consequentemente, acabamos nos tornando imprudentes e metemos os pés pelas mãos, esquecendo-nos que a imprudência pode levar à morte, como aconteceu com Oza (cf. 2Sm 6,7).


Conforme o livro dos Provérbios, a sabedoria mora com a prudência (cf. Pr 8,12) e, é melhor adquirir a sabedoria do que o ouro, e, a prudência, é mais preciosa do que a prata (cf. Pr 16,16). De fato, todos os grandes personagens bíblicos eram sábios e prudentes. Davi, por exemplo, conduzia-se com prudência em todos os seus caminhos e o Senhor estava com ele. Por isso obtinha êxito em todas as suas expedições (cf. 1Sm 18,14).


A pessoa sábia e prudente é também paciente, sabe suportar as demoras de Deus (cf. Eclo 2,1- 5) e sempre fará o discernimento correto, escolhendo a melhor parte. Aquela que não lhe será tirada (cf. Lc 10,42). O sábio e prudente sempre vai escolher o bem e a vida: ‘Vê, eu ponho hoje diante de ti a vida e o bem, a morte e o mal [...] Escolhe, pois, a vida, para que vivas tu e tua descendência’ (Dt 30, 15.19). O insensato, pelo contrário, será exterminado e não terá posteridade (cf. Sl 37, 34). Diante do cenário que se apresenta perante nós, é conveniente nos questionarmos: é sábio e prudente abrir as nossas igrejas agora? Não é mais sábio e prudente esperarmos um pouco mais para ver como ficam os dados depois desse primeiro relaxamento das medidas de isolamento? Estamos prontos para respondermos à pergunta que o Senhor nos fará: ‘onde está o teu irmão?’ (cf. Gn 4,9). Abrir as igrejas agora só porque o comércio abriu seria pensar de acordo com Deus ou de acordo com os homens (cf. Mt 16, 23)?


Muitos podem até pensar que agimos assim porque não sentimos falta de celebrarmos em comunidade ou porque somos pastores relapsos, que não se importam com o rebanho. A verdade, no entanto, é que somos pastores segundo o coração de Deus, que apascentam com clarividência e sabedoria (cf. Jr 3,15). Por isso, sentimos falta sim de estarmos juntos e estamos sofrendo. Mas, preferimos ser julgados pelo excesso de zelo do que oferecermos a vida dos nossos fieis em holocausto e sacrifício. Como nos ensina Samuel, a obediência é melhor do que o sacrifício. ‘Com efeito, a rebelião equivale a um pecado de magia, e a arrogância à idolatria’ (1 Sm 15, 23). Além disso, não podemos esquecer que a ira de Deus virá sobre os desobedientes. Portanto, não sejamos cúmplices deles (cf. Ef 5, 6).


Agir com sabedoria e prudência agora é manter-se fiel ao Mestre e seus ensinamentos (cf. Mt 10, 16; 25, 1-13). É colocar em prática o mandato de Jesus a Pedro: cuida das minhas ovelhas (cf. Jo 21, 15-17). É seguir à risca as orientações do apóstolo Paulo: “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos estabeleceu como guardiães, para apascentardes a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o seu sangue” (At 20, 28). É demonstrar confiança em Deus e não se desesperar diante das tribulações (cf. Sl 94, 19; Jo 16, 33; Mt 6, 25-34).


Engana-se quem pensa que a Igreja de Cristo parou. Nossos templos estão fechados, é verdade. Mas, a Igreja está mais ativa do que nunca. São inúmeras as ações para garantir a assistência espiritual e, em alguns casos, material, não apenas dos nossos fiéis católicos, mas de todos os que precisam. Estamos vivendo um tempo de fecundidade eclesial, porque agora cada lar é uma pequena igreja doméstica, a exemplo das comunidades cristãs primitivas e como bem nos ensinou o próprio Jesus (cf. Mt 18, 20). Por isso, acreditamos que quando tudo isso passar, nascerá uma nova Igreja, ainda mais viva, mais alegre e mais comprometida com o projeto do Reino de Deus. Abrir as igrejas agora seria fazer um parto prematuro, com todos os riscos que ele oferece.


A sabedoria e a prudência também exigem que tomemos cuidado com o conselho dos ímpios, porque são ciladas sanguinárias (cf. Pr 12, 6). Não estamos em campanha para conseguir apoio à nossa causa, tampouco estamos em guerra com quem pensa e age diferente. Apenas estamos agindo de forma coerente com a fé que professamos e a pregação que pregamos.


Tenhamos, pois, diante de nós as palavras do apóstolo Pedro: ‘Sede sóbrios e vigiai. O vosso adversário, o diabo, vos rodeia como um leão a rugir, procurando a quem devorar. Resisti-lhe, firmes na fé, certos de que iguais sofrimentos atingem também os vossos irmãos pelo mundo’ (1Pd 5, 8-9). Sejamos, portanto, sábios e prudentes, para fazer a coisa certa, na hora certa e do jeito certo.

 

 

 Pe. Jairo Coelho

 
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