Em 1928 existia uma pequena construção de madeira que acolhia 30 hansenianos. A família Costa habitava nas proximidades, sendo o Sr. Antônio Costa seu primeiro administrador, ou seja, o comboieiro que era encarregado de trazer de Rio Branco os alimentos fornecidos pela Santa Casa para os doentes.
O Sr. Antônio morava com a família numa casa próxima, enquanto o seu filho doente permanecia com os outros no galpão. Além disso, os membros da família Costa assumiam também a função de enfermeiros.
O Governador naquela época era o Sr. Hugo Carneiro e o padre que ia visitar os doentes uma vez por ano era o Pe. Gregório.
O Sr. Manoel Leandro Gomes, assumiu como comboieiro, após a morte do Sr. Costa, buscando os mantimentos em Rio Branco uma vez por semana. Naquele tempo para fazer essa viagem se gastava um dia inteiro. O médico visitava o leprosário uma vez ao ano. As primeiras casas de moradia eram todas de madeira e distantes umas da outras. Essas distâncias não facilitavam as visitas do médico.
Para o tratamento das feridas e curativos, usava-se óleo de andiroba, álcool e iodo. E para desinfetar as casas creolina. No entanto, o tratamento específico da hanseníase era feito a base de sulfona, apresentada sob forma de comprimidos ou injeções. Esses medicamentos chegavam provenientes de São Paulo.
Em 1947 veio visitar a Colônia o Major Guiomard dos Santos, Governador da época, o qual fez melhorias na Colônia e colocou um novo administrador chamado José Sales de Araújo. Assim, a partir de 1948, a assistência médica melhorou, pois o médico chegava ao leprosário cada semana. Um enfermeiro, José Messias, permanecia dois dias por semana na Colônia. O Dr. Bastos prestou seus serviços, no início, por um período de dois anos. Seu substituto foi o Dr. Jesuino. Depois foi o Dr. Elson que assumiu por um período de 15 anos. Muito apreciado pelos hansenianos, o Dr. Elson deixou saudades e seu nome foi lembrado durante muitos anos pelos doentes e pelo pessoal de diferentes serviços.
Em 1950, pequenas aldeias nasceram ao redor do Leprosário. Pequenas propriedades foram distribuídas aos hansenianos que recuperavam a saúde no Leprosário e podiam instalar-se com sua família. Esses casos eram autorizados a ter “independência” conforme prescrição médica. Infelizmente, esses novos externos se machucavam no trabalho e, consequentemente deviam voltar ao Leprosário para receber tratamento adequado. E esse vai e vem se repetia periodicamente, uma vez que a hanseníase apresentava-se como doença crônica. A parte afetada tornava-se insensível.
Muitas outras pessoas e voluntários vieram e passaram pela Colônia, onde se dedicaram totalmente ao serviço dos doentes. Entre as pessoas que permaneceram vivas na memória estão o Sr. Geovane e o Sr. Raimundo Fialho, que foram administradores; o Sr. Rivaldo, que foi motorista e encarregado de compras durante muitos anos; e o Sr. Higino Moreira de Freitas.
O nome do Leprosário foi devido ao nome de um médico do Estado de Minas Gerais, Dr. Heráclico de Souza Araújo, pioneiro na pesquisa dessa patologia. E a finalidade do mesmo foi sempre prestar assistência integral médico-hospitalar aos portadores de hanseníase.
Em 1966, o então Governador do Estado do Acre, Jorge Kalume, solicitou da Prelazia do Acre e Purus, que assumisse a direção-administração do Leprosário. O então Bispo da Prelazia, Dom Giocondo M. Grotti, redigiu um contrato de comum acordo com o Governador.
Ficou estabelecido que: “A manutenção continuaria sendo responsabilidade do Governo do Estado, o que consistiria em remédios, alimentação, salários e até conservação dos prédios. O valor repassado seria através de subvenções sociais, reajustado de acordo com a moeda do momento, através de projetos anuais apresentados pela Prelazia”.
Inicialmente a Prelazia procurou investir na organização e criação de melhores condições de vida para os doentes, tendo construído vários pavilhões com doações de entidades italianas que solucionaram as necessidades do momento.
Em torno do ano de 1966, somava-se 400 hansenianos, divididos entre internos (moradores do Leprosário) e os externos (moradores nos lotes distribuídos vizinhos ao hospital).
Nesse ínterim houve uma espécie de reforma agrária na área A Prelazia adquiriu as terras próximas à Colônia, que pertenciam ao empresário Jimy Barbosa e, em colaboração com o governo, distribuiu terrenos para muitos doentes que saíram do Leprosário juntamente com suas famílias, passando a viver independentemente. A área de terra, medindo 100 hectares de extensão, onde está localizada a Colônia, havia sido anteriormente doada à Prelazia.
Alguns documentos escritos ficaram para a memória:
“No ano 1969-1970, trabalhou-se intensamente no Leprosário, certamente a obra de maior vulto na Prelazia. O mesmo se compõe de um amplo hospital de 85 leitos, capela, casa para as enfermeiras, teatro-cinema, escola, empório, e mais de 100 casas em alvenaria para os hansenianos. E além dos serviços de cirurgia, tinha consultório dentário, escola, cozinha, lavanderia, rouparia, sala de costura, etc.”.
“Nele trabalharam especialmente o Pe. Alberto Morini e um técnico alemão, Erick Shimith. Efervescente atividade nesses anos, onde os enormes aviões “Hércules” da Força Aérea Brasileira tiveram seu papel preponderante no transporte de material de São Paulo e Rio de Janeiro para o Acre.
“No final de 1969 inaugura-se o complexo do Leprosário da Colônia Souza Araújo, nascido do coração de Dom Giocondo Grotti e do esforço e tenacidade do Pe. Alberto Morini. Podia acolher os cerca de 400 hansenianos que até então moravam em choupanas anti-higiênicas, abandonados pelas autoridades sanitárias”.
Também o Pe. Nilo Zanini deu sua contribuição para o bom andamento do Leprosário: “Terminou o contrato do Pe. Nilo na administração do Leprosário. Mas os leprosos e enfermeiras, habituados a ver aquele rosto bonachão, de chapéu na cabeça e de coração grande, mostram-se inconformados com sua saída. Muito obrigado, Pe. Nilo, parecem lhe dizer todos. Continue repartindo a semente da Boa Nova que o pessoal da Colônia e da cooperativa vibraram mesmo!”.
Com as mudanças internas, introduzidas pela Prelazia, muitos doentes estranharam, pois estavam acostumados a uma vida mais livre e individual.
Mas, a maioria deles se sentiu bem com a presença da Igreja, principalmente com a chegada das enfermeiras italianas, que lhes deram toda atenção e carinho, apesar de serem também exigentes quanto à disciplina e a ordem.
As primeiras italianas a chegar foram Dária, Marieta, Pia e Iolanda, sendo esta última conhecida por “vovó”. Depois chegaram Lina, Pierina, Rosella, Rosinha, Odete e Juliana, tendo todas elas se dedicado bastante aos doentes durante longos anos.
A partir de 1977, chegaram à Prelazia religiosas da Congregação das Irmãs Josefinas, respondendo à necessidade da Diocese, que tinha dificuldade em encontrar pessoas que se dedicassem a esse serviço. Mesmo não fazendo parte de seu carisma, as Irmãs assumiram a direção, administração e demais serviços que a instituição necessitava, como forma de ajuda à dificuldade que a Diocese enfrentava.
Dos médicos que passaram a dar assistência aos doentes da Colônia após o Dr. Elson, podemos citar o Dr. Efraim, Dra. Marinez, Dra. Clara, Dr. Jair, Dr. Guilherme e a Dra. Léia. A partir de 1979, o médico que passou a atender os hansenianos “internos” e “externos” foi o Dr. José Francisco Furtado, que se instalou “in loco” em 1989.
Além dos hansenianos acolhidos e hospitalizados da região, acolhiam-se também hansenianos de outras partes, principalmente dos estados do Pará, Amazonas, Rondônia, Roraima, Maranhão e Goiás.
A Diocese de Rio Branco, sempre entendeu que o Leprosário era uma das expressões mais significativas de expressar a caridade evangélica:“É o lugar da misericórdia”.
Depois de vários anos o Leprosário ou Colônia passou a ser chamado “Hospital Souza Araújo”.
E, depois do ano 2000, mudou-se o nome, pois com o nome de Hospital precisava responder a todas as exigências próprias de um hospital, não sendo essa sua função, pois alguns pacientes moravam nele fazia mais de quarenta anos. Assim, passou a ser chamada “Casa de Acolhida Souza Araújo”, como é conhecida nos dias de hoje.
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